ATA DA QÜINQUAGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 02-12-2003.

 


Aos dois dias do mês de dezembro de dois mil e três, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e vinte e um minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor João Fernandes da Costa, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 136/03 (Processo nº 2807/03), de autoria do Vereador Sebastião Melo. Compuseram a MESA: o Vereador João Antonio Dib, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor José Carlos de Miranda, Presidente da Casa de Portugal; o Senhor Geraldo Stédile, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; o Senhor João Fernandes da Costa, Homenageado; o Vereador Sebastião Melo, na ocasião, Secretário "ad hoc". A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Sebastião Melo, em nome das Bancadas do PCdoB, PPS e PSB, discorrendo sobre a trajetória de vida do Homenageado, expôs os motivos que levaram Sua Excelência a propor o Título hoje entregue, destacando o caráter empreendedor e solidário demonstrado pelo Senhor João Fernandes da Costa no desempenho de suas atividades profissionais. Após, o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondências alusivas à presente solenidade, enviadas pelo Senhor Germano Rigotto, Governador do Estado do Rio Grande do Sul; pela Senhora Marilene Bertoncheli, Chefe de Gabinete da Secretaria Estadual de Cultura; pelo Senador Pedro Simon; pela Senhora Maria Hilda Marsiaj Pinto, Procuradora-Chefe da Procuradoria Regional da República da 4ª Região; pelo Deputado Estadual Ruy Pauletti, Presidente da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; pela Senhora Talaine Selistre, do Cerimonial da Secretaria Estadual do Trabalho, Cidadania e Assistência Social, em nome do Senhor Edir Oliveira, Secretário dessa Pasta; e pelo Senhor Adeli Sell, Secretário Municipal da Produção, Indústria e Comércio - SMIC. Também, o Senhor Presidente registrou o recebimento de telefonema do Deputado Federal Alceu Collares, alusivo à presente solenidade. Em prosseguimento, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Elói Guimarães, em nome da Bancada do PTB, saudou o Senhor João Fernandes da Costa, afirmando que o Homenageado é um exemplo de vida dedicada ao trabalho e cujas atividades, junto ao Bar Naval, foi sempre embasado na integração com a comunidade, transformando-se em referência cultural e social para Porto Alegre. O Vereador Haroldo de Souza, em nome das Bancadas do PMDB e do PP, referiu-se à vinda do Senhor João Fernandes da Costa ao Brasil, citando a presença do Bar Naval em momentos marcantes da história da Cidade, quando neste estabelecimento foram realizadas reuniões e debates envolvendo diferentes estilos de vida e ideologias políticas. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, saudou o Homenageado, procedendo à leitura do poema "Feriado Nacional", de sua autoria, onde são tecidas análises quanto à magia e à simbologia dos bares e à importância desses locais de encontro e consagração do ser humano consigo mesmo e com seus semelhantes. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, afirmando ser o Bar Naval ponto de referência em Porto Alegre, ressaltou a justeza da homenagem hoje prestada pela Casa, como o reconhecimento da comunidade ao trabalho realizado pelo Senhor João Fernandes da Costa em prol do engrandecimento humano e cultural do Município. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome da Bancada do PDT, salientando a relevância dos imigrantes portugueses na construção da Cidade, declarou que a presente homenagem se estende aos fregueses do Bar Naval e à lembrança das figuras que já transitaram por esse estabelecimento, mencionando como exemplo o nome do Senhor Glênio Peres, ex-Vereador desta Casa. A Vereadora Margarete Moraes, em nome da Bancada do PT, apresentou o Senhor João Fernandes da Costa como cidadão-símbolo do Mercado Público de Porto Alegre, destacando o trabalho empresarial e cultural realizado por Sua Senhoria na transformação do Bar Naval em modelo de espaço de convívio, de debate democrático e de lazer. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou o Vereador Sebastião Melo e a Senhora Sulami Fernandes da Costa para procederem à entrega do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor João Fernandes da Costa, concedendo a palavra a Sua Senhoria, que agradeceu o Título recebido. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e quarenta e um minutos, convidando a todos para a Sessão Solene a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador João Antonio Dib e secretariados pelo Vereador Sebastião Melo, como Secretário "ad hoc". Do que eu, Sebastião Melo, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene. Senhoras e senhores, bem-vindos à Casa do Povo de Porto Alegre. Nós, neste momento, estamos dando início à outorga do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. João Fernandes da Costa. É uma proposta do Ver. Sebastião Melo e foi aprovada pela unanimidade dos Vereadores desta Casa.

Compõem a Mesa o nosso homenageado, Sr. João Fernandes da Costa; o Sr. Geraldo Stédile, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre, que vai receber, depois, o nosso João Fernandes da Costa; e o Presidente da Casa de Portugal, Sr. José Carlos de Miranda. Saúdo a presença dos Vereadores, em especial do Ver. Sebastião Melo. Minhas senhoras e meus senhores, convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Ouve-se o Hino Nacional.)

 

Uma das mais belas poesias que eu conheço sobre Porto Alegre, de autoria do poeta Antonio Xavier Balbé, é a em que ele diz, referindo-se a Porto Alegre: “As tuas esquinas são pontos de encontro e não confluências de retas, que, para os poetas, nada indicam”. Hoje, o nome da moda é point - onde as pessoas se encontram -, mas os point vão trocando, trocando, e trocando. No entanto, os pontos de encontro, como é a casa do nosso homenageado, o Naval, em que ele está há 40 anos – e a casa tem 96 anos, está como foi criada, não foi nada mudado –, realmente, seria o ponto de encontro do poeta, porque lá se encontram todas as classes de porto-alegrenses. Todos aqueles que amam esta Cidade têm uma passagem por lá de uma ou de outra forma. Mas quem vai dizer melhor das qualidades do nosso homenageado, neste momento, é o Ver. Sebastião Melo, que é o proponente desta homenagem, o qual falará em nome das Bancadas do PPS, PSB, PCdoB, além da sua Bancada, o PMDB.

O Ver. Sebastião Melo está com a palavra.

 

O SR. SEBASTIÃO MELO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu quero fazer uma pequena correção, Sr. Presidente. Eu falo aqui como proponente, e, com muita honra, a minha Bancada será representada, nesta Tribuna, pelo meu colega Ver. Haroldo de Souza.

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): A Mesa reconhece o seu erro.

 

O SR. SEBASTIÃO MELO: Eu queria, de forma muito especial, saudar a esposa do Seu Manoel, a Dona Sulami, suas filhas Joana e Juliana, especialmente os amigos e amigas, demais parentes do nosso homenageado. Em primeiro lugar, meu querido João Fernandes, eu estou Vereador pelo terceiro ano e é conferido a cada Vereador conceder um Título uma vez por ano. Desta feita, no ano retrasado, um ex-Vereador desta casa, querido amigo Werner Becker, pediu que eu assinasse um Título a uma figura magnífica e eu assinei. No ano passado o Ver. Luiz Braz pediu que eu assinasse um Título a outra figura magnífica e eu também assinei. Então, sou debutante nesta Casa, o primeiro Título que eu concedo como Vereador, que foi da minha iniciativa, é o Título que estou concedendo ao senhor, porque nos demais, merecidos, fui instado pelos meus colegas Vereadores.

Queria dizer ao nosso homenageado que nós chegamos nesta Cidade em 1978, sou do interior de Goiás, e também fui um capinador de roça como o senhor. Só que não cuidei de oliveiras como o senhor cuidou, lá e aqui, e fui descobrir nesta caminhada o nosso querido português plantador e cuidador de oliveiras, aliás, as únicas oliveiras, Ver. Elói Guimarães - plantadas pelo nosso querido João Português - em vias públicas, na Rua D. Eugênia. Quero dizer que conheço o Naval desde aquela época, 1978. Talvez nos primeiros três ou quatro anos não tenha entrado lá, porque naquela época eu era um carregador da CEASA e passava ali nas madrugadas para carregar as caixas na CEASA e voltava para trabalhar na lancheria Farroupilha, que era aqui na Rua Fernando Machado. Mas, quando pude começar a tomar um chope, comecei a freqüentar o Naval. Portanto, nesta convivência harmônica e extraordinária, Seu João, eu diria que com muita alegria nós estamos aqui nesta tribuna saudando o senhor. O senhor tem 74 anos, 42 anos de balcão, no comando, como timoneiro do Naval, de um bar que tem 96 anos. Contavam-me num dia desses que ele criou as filhas ali, vinham dormir no balcão, porque o senhor não podia deixar o balcão e hoje vejo aí moças feitas, veja que história magnífica. Diziam mais, Miranda, que quando chegou, em 59, ele já rondava o Mercado Público e de lá para cá o nosso Naval, que inicialmente era o armazém Naval, transformou-se em Bar Naval, que eu diria: é um santuário da vida porto-alegrense. Por lá, meus queridos amigos, eu poderia destacar tantas figuras, mas quero destacar um homem público para nós muito caro que foi Vice-Prefeito da nossa Cidade, grande líder, que é o Glênio Peres. O Glênio tinha a sua cadeira reservada no Naval. Mas eu também poderia citar o nosso ex-Governador do Estado Olívio Dutra, que quantas e quantas vezes, ainda quando bancário, e, depois, como Governador e como Prefeito, freqüentava o bar. O nosso Vereador João Antonio Dib me falava do Ver. Elói Guimarães que, quantas e quantas – não vou dizer noites, Elói! – tardes, Vossa Excelência por lá estava. Quantas revoluções foram feitas naquelas mesas ali, no nosso Bar do Português.

O Governador Rigotto pediu que lhe transmitisse, meu querido João Português, um abraço muito fraterno. Depois, o Presidente, com certeza, vai-lhe repassar uma correspondência - não está aqui, porque não pôde estar - dizendo do carinho especial que tem pelo Bar Naval e dizendo que, na sua caminhada para Governador, agora, aqui em Porto Alegre, a sua primeira aparição pública foi no Bar Naval, vejam como é referencial.

Também o nosso Vice-Governador, que estaria hoje presente, e poderia dizer de tantas outras figuras, mas eu gostaria de dizer que, se por um lado ele é freqüentado por políticos, também lá esteve nada mais, nada menos do que aquele que foi e continua sendo imortal para todos os brasileiros, o maior poeta, não do Rio Grande, mas do Brasil, que é Lupicínio Rodrigues, que também tinha cadeira cativa no nosso querido Naval, juntamente com o seu mano, o nosso poeta Carlos Nejar, o Vilson Ferreira, o maior cantor de tango que essa Cidade teve. Isso tudo passou, uns foram e muitos outros continuam no nosso querido Naval.

Por isso, nós poderíamos dizer que o Naval, Sr. Presidente Dib, como disse Vossa Excelência, é um estuário de advogados, juízes, funcionários públicos, intelectuais e jornalistas, mas, acima de tudo, ele é freqüentado pelo homem do povo, pelo estivador, pelo trabalhador, pelo ambulante. Lá se misturam negros, brancos, amarelos, ricos e pobres nesse mix que é o nosso querido Bar Naval, que é um referencial da cidade de Porto Alegre.

Então, por isso, quando esta Casa, pelo conjunto de seus Vereadores, meu querido João Português, de forma unânime, faz esta homenagem, eu diria que é um resgate, um resgate à história desta Cidade, de alguém que deixou uma outra pátria, irmã, que é a nossa querida Portugal, da nossa freguesia, de Lamas de Volga, e aqui se aquerenciou, contribuindo muito para a vida desta Cidade. Uma Cidade que não tem um centro referencial, não é uma cidade que tem história. O Mercado é a história viva da nossa cidade de Porto Alegre, e o Bar Naval, mesmo na sua reformulação, o nosso querido João fez com que preservasse, ali, as características históricas do nosso Mercado, naquele cantinho que é o Bar Naval.

Portanto, meus amigos, com muita alegria e muito gosto nós estamos aqui, nesta tarde de hoje - memorável, Ver. Cláudio Sebenelo -, homenageando um trabalhador, um lutador, um empreendedor, um homem que faz parte desta Cidade magnífica, que aqui consegue acolher gente de todos os estados brasileiros e de todas as pátrias, e que se transforma em porto-alegrense.

E o senhor, Seu João, quando esta Casa lhe concede este Título, está dizendo muito obrigado não pelo o que o senhor fez, mas muito pelo o que vai fazer, por ser muito novo, ter muita disposição e por estar naquele balcão dia e noite. Então, esta homenagem não é pela aposentadoria, mas para continuar a caminhada, porque a caminhada do senhor nos orgulha, porque o senhor é um trabalhador, um homem dedicado, levanta cedo e dorme tarde, honrando a nossa cidade de Porto Alegre, o nosso Estado, o nosso País.

Eu poderia citar magníficas pessoas, eu vejo, por exemplo, o nosso querido Paulo; se o Português tem 42 anos, o Paulo tem 47 anos de Naval, porque vem de antes, vejam que magnífica parceria! Eu diria que é mais do que um funcionário, é um sócio desse empreendimento. Queria também registrar os nossos cumprimentos, de forma muito efusiva, ao Mauro, que tem 24 anos de casa e atende, com muito brilhantismo, todas as vezes que os clientes lá estão. Queria cumprimentar a D. Natércia Duarte, cunhada do homenageado, que foi sucessora do Sr. Manoel da Costa, irmão do nosso homenageado, que também hoje faz parte do bar.

Para finalizar, o nosso homenageado me dizia que a sua irmã, a Maria Fernandes da Costa, com um gesto de humanismo ficou em Portugal cuidando dos seus pais - até que eles fossem transportado a um outro patamar da vida terrena -, e, com gesto de grandeza, de bondade, trouxe-a para Porto Alegre e hoje convive no seu lar. Portanto, atitudes como essas dignificam a caminhada humana. Mas queria dizer que há uma questão, entre tantas, que nós podíamos destacar: o cidadão que vai ao Naval, toma um trago e não paga, o Português, que não tem caderno, anota na bolacha do chope; e o pior é que estão devendo tanto que não há mais lugar para botar as bolachas de chope. Então, uma hora dessas nós vamos ter de fazer um leilão dessas bolachas, e vamos encontrar muita gente boa lá naquelas bolachas.

Por isso, meu Presidente, meu homenageado, familiares, amigos, é uma tarde de alegria muito grande para esse goiano de nascimento e gaúcho de coração, que não viu o Naval nascer, mas que já em 1978 passava ali naquela porta, no rumo do Linha-2 do Navegante para a CEASA.

Portanto, é com muita alegria, o senhor com 42 anos no Naval, que esta Cidade, que me acolheu, me transformou Vereador, prestar-lhe esta modesta e singela homenagem, mas eu diria que é de coração, de alma e de sentimento. Parabéns, Sr. João Fernandes da Costa. Saúde! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Sobre a Mesa as seguintes correspondências dirigidas ao nosso homenageado: do Sr. Governador do Estado, Dr. Germano Rigotto: “Nossa Capital é rica em cidadãos que, como Vossa Senhoria, enriquecem a maravilhosa história do cotidiano com sua dedicação e seu labor. Não é possível retratar o Mercado Público e o Centro de Porto Alegre sem citar o Bar Naval e seu proprietário”. E assim ele encaminha o seu abraço ao proprietário e aos que lá com ele labutam no dia-a-dia. O Deputado Alceu Collares telefona dizendo da impossibilidade de estar presente, mas de coração diz que aqui está. A Sra. Marilene Bertoncheli, Chefe de Gabinete da Secretaria de Cultura, em nome do Secretário, cumprimenta o homenageado. O Senador Pedro Simon, cumprimenta pelo recebimento do Título, felicitando-o pela merecida homenagem. O Ver. Adeli Sell, Secretário Municipal da Produção, Indústria e Comércio cumprimenta o nosso homenageado e os que com ele trabalham no Naval. A Dona Maria Hilda Marsiaj Pinto, Procuradora-Chefe da 4ª Região, cumprimenta o Ver. Sebastião Melo e também o homenageado. Sr.ª Talaine Selistre, do Cerimonial da Secretaria do Trabalho, Cidadania e Assistência Social, em nome do Dep. Federal Edir Oliveira, que é o Secretário, cumprimenta o Ver. Sebastião Melo e também o homenageado. O Prof. Ruy Pauletti, Dep. Estadual, cumprimenta o novo Cidadão de Porto Alegre, o Sr. João Fernandes da Costa, e também cumprimenta o Ver. Sebastião Melo e a Câmara pela iniciativa. Outras mensagens devem estar chegando no nosso Gabinete e depois serão levadas às mãos do nosso homenageado.

O Ver. Elói Guimarães está com a palavra e falará em nome do PTB.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Saúdo a esposa, filhas, parentes, enfim, do homenageado; o Ângelo, e, mencionando o seu nome, eu quero mencionar todos os permissionários do Mercado Público; em especial, os clientes, os fregueses, a freguesia do Naval, que são amigos do homenageado, o João Fernandes. Ver. Sebastião Melo, esta é uma homenagem extremamente importante, na medida em que, na pessoa do João, nós estamos homenageando os portugueses, muitos aqui presentes; estamos homenageando o Mercado Público e também estamos homenageando os restaurantes e bares como espaços sócio-culturais.

Gostaria de dizer da figura do homenageado, de todos conhecida, é muito simples: é um homem de bem, uma figura notável da nossa Cidade, diuturnamente no seu posto, no seu trabalho; é um homem que faz do trabalho uma verdadeira devoção e a ele se dedica intensamente.

Quando se fala na figura do homenageado, nós não podemos deixar de citar aquilo que o cerca. E é como dizia Ortega y Gasset: “O homem e as suas circunstâncias”. O bar e o restaurante estão nas circunstâncias do nosso homenageado, do nosso Cidadão, o João Fernandes, pelo que ele significa para a Cidade, na medida em que ele se integra a um complexo cultural, social da cidade de Porto Alegre, que é o Mercado Público, patrimônio de todos nós, patrimônio da Cidade.

Por outro lado, o bar, o restaurante, o que isso significa para as pessoas, independentemente de as pessoas comparecerem lá para tomar o seu chopezinho, o seu drinque, o seu “martelinho", para comer um bacalhau? O que isso representa? Isso é extremamente importante. O bar é uma instituição nacional, sim; é ali que as pessoas se encontram, pessoas que, por certo, jamais se comunicariam não fora aquele espaço. E o Naval é um símbolo disso. Não fora aquele espaço, as pessoas não teriam oportunidade de se integrar, de se inteirar de todos os assuntos que envolvem o dia-a-dia de todos nós.

O autor da homenagem mencionou os seus freqüentadores. A Câmara, quando estava ali, João, na chamada Prefeitura Nova - como é mais conhecida -, nós freqüentávamos quase que assiduamente, Chaves – tu, que também és um freqüentador do Naval -, ou quase que sistematicamente ali nos encontrávamos. E o Melo mencionou a figura do Glênio Peres e de tantos outros, quando nos reuníamos ali por horas e horas, discutindo os mais diferentes assuntos da Cidade, do Estado e do País. O Bar é um vício, o Naval é um clube, João. A Cidade tem um clube que se chama Naval, ali estão seus freqüentadores permanentes, até porque ali tem um garçom poeta, o Paulo “Naval”, poeta popular; um homem que absorveu tudo que ali se produz e começou a escrever brilhantes poesias populares.

Então, é um momento importante para a cidade de Porto Alegre. Eu tenho dito e reiterado desta tribuna: quem quer agradecer, João, não é o Vereador, não são os Vereadores: é a Cidade, é a Cidade que está te homenageando. Este Título, a Cidade está entregando por intermédio da Câmara Municipal de Porto Alegre, por proposição do Ver. Sebastião Melo, pelo que tu tens feito; pelo que tu representas, como pessoa, como ser humano, como homem de valor, símbolo de trabalho, mas pelo que representa também essa instituição que tu tens, que se chama vulgarmente de bar ou restaurante, mas que é um espaço importante, eu diria sagrado; é ali que nós sentamos e pedimos um chopinho e pedimos outro e vamos conversando. Temos momentos agradabilíssimos, Presidente, no bar, onde discutimos os assuntos e onde se resolve problemas, sim; onde se discute política, futebol, fazem-se negócios. E muitas vezes se marca: vamos nos encontrar no Naval para resolver esse ou aquele problema. O bar, o restaurante tem esse fantástico significado, que é um espaço de encontro, é um espaço social onde as pessoas se reúnem, se conhecem.

O que seria, muitas vezes, de uma cidade se não houvesse esses espaços, se não houvesse um espaço como o Naval, João? Como o teu restaurante, o teu bar, tão bem servido por ti, contigo, ali? Evidentemente, sempre meio perto da caixa, é claro - isso é o natural, é o óbvio -, mas sempre trabalhando diuturnamente, diariamente, alegre, simpático, transmitindo endorfina e alegria para os teus fregueses, naquele entretenimento magnífico que tem o bar e que realiza o bar para as pessoas.

Ali se faz história, sim; faz-se a história de Porto Alegre no Naval. Portanto, o Naval é uma instituição de Porto Alegre, é um patrimônio da Cidade.

Dessa forma, João, neste dia magnífico em que tu recebes o Título de Cidadão de Porto Alegre, recebe o agradecimento e a saudação do meu Partido. E que tu continues assim, sempre jovem, simpático, alegre, comunicativo, enfim, cumprindo a tua missão de fazer exatamente o entretenimento, a aproximação das pessoas naquele espaço social e sagrado, que é o restaurante e o bar. Obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Elói Guimarães falou pelo seu Partido, o Partido Trabalhista Brasileiro.

O Ver. Haroldo de Souza está com a palavra e falará pelo seu partido, o PMDB, e pelo meu, o Partido Progressista.

 

O SR. HAROLDO DE SOUZA: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Falo com orgulho em nome do Partido do Presidente da Casa e do nosso PMDB.

No dia 15 de julho de 1929, na Freguesia de Lamas do Volga, no Município de Águeda, Distrito de Aveiro, nascia, na Pátria-Mãe Portugal, o Sr. João Fernandes da Costa. O Seu Joaquim e a D. Felismina certamente não imaginariam que aquele menino que chegava ali no bairro do Volga teria uma história a ser escrita no outro lado do Atlântico, uma história bonita, uma história dentro da história de Porto Alegre.

O menino João Fernandes veio ao mundo num local de rara beleza, às margens do rio Volga, - que conheço, graças a Deus -, onde se podem encontrar profundos vestígios de edificações mouras, com uma ponte de pedra para a travessia do rio com a idade de 3 mil anos, ele escreve história, porque ele vem de história.

Tenho por costume só falar em homenagens onde sejam tocados o meu coração e a minha emoção. E tendo eu um Projeto na Casa para as ruas da nossa Porto Alegre, para que tenham milhares de árvores frutíferas, chamou-me a atenção que aquele menino do Bairro de Volga, hoje com 74 anos de vida, encontrou tempo, só ele, para plantar mais de mil árvores, sendo que parte delas estão no trabalho de plantio feito na Rua Dona Eugênia, em nossa Capital. O Sr. João Fernandes plantou ali 857 mudas de oliveiras que ainda hoje fornecem azeitonas de excelente qualidade, prova eloqüente de seu amor pela natureza. E quem ama a natureza sempre é gente boa, aberta para o diálogo, para a amizade e para a vida.

E o pinheiro português, Sr. João? O Sr. João que chegou aqui em 1958; com 28 anos de idade, ajuda a escrever a história de um dos redutos culturais, artísticos e políticos de grande influência da cidade de Porto Alegre. O Bar Naval é parte da história da Cidade, já reuniu gente graúda e gente miúda; o Bar Naval, comandado pelo Sr. João, é um local onde se encontram todas as pessoas com as mais diferentes ideologias políticas, notadamente nos momentos em que parte da história do Cidade, do Estado e do País, passaram por ali, continuam passando e vai passar para o sempre. O sempre Governador Alceu Collares; o grande Carlos Nejar; o Sr. Olívio Dutra e os seus sonhos de bancário e Governador; o meu querido e saudoso amigo de tantas incursões na boêmia - que saudade! -, Glênio Peres; o inigualável Lupicínio Rodrigues, com o Chiquinho; o fantástico pandeirista Veludo; o grande tocador de violão, o velho Zico; o Presidente Lula, ainda em campanha; o brilhante professor, meu amigo Ruy Carlos Ostermann; milhares de jornalistas, políticos, atores, cantores, poetas e compositores, gente famosa e gente simples. O Bar Naval, que o Sr. João comanda com tanta simpatia, cordialidade, capricho e carinho, é uma casa de todos, porque é um bar onde nos sentimos como em nossas casas.

No Bar Naval, o Sr. João Fernandes, o homenageado de hoje nesta Casa, recebe do estivador do cais ao Desembargador, com a mesma igualdade, e, por isso, é um dos locais mais agradáveis de nossa Cidade. Na história dos 42 anos da casa, o Bar Naval, por intermédio do Sr. João Fernandes, foi testemunha de momentos de turbulência da vida da Cidade, da vida nacional. Na reforma legalista de 1964, serviu de refúgio para fregueses e transeuntes que por ali circulavam no momento de violência, com incêndio de veículos e tiroteios.

E ainda teve de passar por uma Lei, aprovada nesta Casa, a qual proibia que bebidas alcóolicas fossem servidas ali e no Chalé da Praça XV, outro local de encontro da vida porto-alegrense nos finais da tarde. Mas como um salgadinho sem um chope gelado e um martelinho para quebrar o gelo? Como um bolinho de bacalhau sem um chope? Como, meu amigo Dirceu? De que jeito, garçom Paulo? Dá a saideira meu! Que idéia mais biruta! E que Projeto mais esdrúxulo! Uma Lei que passou, e o então Prefeito Collares tomou medidas: olhando da janela de seu gabinete as portas do Naval fechadas, ordenou providências de imediato. E com a assinatura de todos os proprietários e freqüentadores dos estabelecimentos do Mercado Público, encaminhou pedido a esta Casa, e a Lei foi derrubada. Uma Lei que ainda permanecia só no papel, mas que causava estragos na vida social da Cidade. Que diga o meu amigo Kenny Braga e tantos outros! Figuras fantásticas da vida da Cidade, impossível nominá-las todas aqui e agora.

João Fernandes da Costa, um simpático português do Estado de Aveiro, é o mais novo Cidadão Honorífico de Porto Alegre por proposição do Ver. Sebastião Melo - que ainda vai chegar a Prefeito da Cidade, um goiano que escolheu Porto Alegre para também desenvolver a sua aptidão de gente do povo, dos sonhos, dos projetos, dessa gente -, que viu, com razão, o direito e a justiça no pedido para se homenagear o pai da Joana e da Juliana e o dedicado esposo de Sulami.

Receba, Sr. João, a homenagem mais uma vez do PMDB e de todos os membros desta Casa, do Presidente João Dib, do PP, mas, principalmente, da comunidade porto-alegrense, de forma muito especial e carinhosa dos seus milhares e milhares de amigos e amigas feitos ao longo desses 42 anos de existência desse pedaço da história de nossa Cidade.

João Fernandes, que mais 26 anos o senhor possa colocar em sua agenda de vida para cuidar do Naval para todos nós. E que, juntos, possamos, em breve, comemorar aqui e lá, evidentemente, o meio século de vida desse estabelecimento que deve constar como um dos pontos turísticos da nossa Capital, com a mesma paixão, com o suor de seu trabalho e com o agradecimento de todos nós, porque, naquele dia, 15 de junho de 1919, Deus ter trazido ao mundo através de Sr. Joaquim e de Dona Felismina essa figura gigantesca de carinho, respeito e de trabalho para a nossa Cidade. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Cláudio Sebenelo falará em nome da Bancada do PSDB.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Sr. Proponente desta homenagem, Ver. Sebastião Melo, que, num momento de profunda inspiração, nos proporciona este momento nesta Casa, hoje, onde eu vejo intelectuais, a fina flor da sociedade, a fina flor do outro lado social, os mais pobres, os mais ricos, o Paulo Naval, o Dirceu, mas vejo também, inclusive, a esposa, a Sulami, as filhas. É um momento fantástico desta Cidade, porque as cidades são feitas de avenidas projetadas, de ruas espontâneas, de casas, de casarios, um ao lado do outro, de edifícios imensos, muitas vezes, de calçadas, de campos de futebol, de botecos e de esquinas. Mas o que nós vulgarmente chamamos de boteco - é a abreviatura do botequim, que é a pequena botica, do boticário, que mexia com substâncias, entre elas o álcool, para fazer bebidas improvisadas, no fundo das farmácias - é o lugar de reunião, esse é um lugar que não tem definição. Eu sempre disse que alguém, algum dia, ia escrever alguma coisa sobre os botecos. E eu me lembro que, menino, pela mão do meu pai, eu passava pelo Treviso, pelo Guarachaim, pelo Gambrinus, pelo Naval, no Mercado, que era o “centro nervoso” de Porto Alegre, porque não existiam supermercados, não existiam shopping. E todos os sábados nós fazíamos verdadeiros ranchos no Mercado e levávamos para casa, e no fim, então, o meu pai sentava num desses bares conosco, com a filharada, e era uma festa muito grande. E o Naval, para mim, é inesquecível. Inesquecível como a definição (Lê.): “Dia destes, qualquer,/ um filósofo, um poeta,/ um scholar ou um sonhador,/ chamará para si, se quiser,/ a imensa responsabilidade/ de explicar, por que o homem/ troca sua casa, até sua cama,/ pelo psicodrama da mesa de um bar.

Pelo menos à beira-mar, filosofará o poeta/ na sedizente chatice/ da metafísica transcendente,/ não objetiva, promessa,/ que virou premissa,/ como o grande amor Alice,/ como da tela o esplendor,/ como da vela a chama/ como o colarinho, espuma da Brahma.

Pelo menos um verso alexandrino, exclamará o filósofo/ hipócrita. Finda a doméstica ternura/ substituem-na pelos amigos à mesa/ como prótese inteiriça, “beleza-pura”,/ sorridente, preenchendo a despesa/ decadente, uniforme, sem noção/ de estética, a se encaixar entre as perdas/ da vida, banguela, que um dia, sem mágoa/ passou a ser terceira e definitiva dentição.

Pelo menos, um copo d’água, racionalizará o scholar,/ pois nele o sorriso e o líquido são sinceros,/ no halterocopismo das grandes peleias,/ na mesa, libando às mancheias,/ o abdômen globoso, crescente,/ o chopp e os corações/ batendo e estupidamente gelados,/ debatem calados, o calor,/ e a solidariedade... humanas.

Pelo menos, mais amenos, quimerará o sonhador/ na madrugada, de importância somenos,/ onde a mediocridade brilha, mais ou menos,/ no paraíso dos quase, o aspone declama Neruda/ que ajuda mas não cobre os cios das cadelas,/ não enche delas a solidão dos vazios/ existenciais, das traças, das taças, os cristais,/ nem muda esta identidade perdida. Não mais/ nos copos, nem dos corpos, as impressões digitais.../

Pelo menos, mais um engov, eructará a vítima/ de si próprio, do relógio, das horas,/ tão escuro, tudo rodando,/ roda roleta do destino,/ roda a chave na porta, tudo de novo/ de quimono, a mulher morta/ de sono, os oito filhos e o boêmio/(fanático pelo Grêmio...)/ ébrio, impávido, irracional.

Pelo menos, um feriado nacional!”

Essa é a definição mais linda que já vi de um boteco; essa é a definição daquele que nós falamos hoje, que homenageamos, que é o dono desse boteco.

E não há coisa mais linda do que uma cidade homenagear as suas figuras.

Hoje o professor Luís Augusto Fischer, no jornal Zero Hora, falava de Bataclã, que foi uma figura fantástica da Cidade, e que hoje é nome de rua; um dia, João Fernandes, na obra prima que construíste a vida inteira, que é esta relação maravilhosa com essas pessoas que estão aqui, certamente, terás o prazer de olhar para trás e ver que construíste também esta Cidade.

Esta Cidade não é de um português; ela é de um porto-alegrense chamado João Fernandes da Costa, a Cidade que oferece para ti a sua população, esta primavera linda de Porto Alegre e, principalmente, todos os amores que há em cada um dos corações. É isso aí, tudo teu! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sras. Vereadoras. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Corro o risco de ser repetitivo para alguns dos colegas Vereadores, eu preciso, inicialmente, acentuar uma circunstância. Sou o último orador desta solenidade, em função de disposição do Regimento Interno, que determina que aquelas Bancadas pequenas falem por derradeiro. Como eu sou integrante do Partido da Frente Liberal, Partido que tem um único Vereador na Casa, no momento, que sou eu, isso faz com que eu fique por último. Diz a máxima Bíblia que “os últimos serão os primeiros”. Eu espero ser um dos primeiros a não contaminar esta homenagem, que, com tanto carinho, a cidade de Porto Alegre está prestando hoje ao nosso querido João Português, por iniciativa do Ver. Sebastião Melo, a quem saúdo pela sensibilidade. Em verdade, eu acho que levou tempo, 74 anos, desde a sua vinda para Porto Alegre para que houvesse este reconhecimento, mas nunca é tarde para que as boas coisas que acontecem na Cidade sejam proclamadas nesta casa do Povo, que é representada por todas as correntes de opinião pública.

Observa-se, com muita freqüência, que alguns fatos unem os Vereadores, independentemente de suas posições políticas; um deles eu tenho sustentado como sendo uma linha de conduta, é que cada um tem de ser ressaltado naquilo que ele sabe fazer bem. Assim como nós temos pessoas que são grandes médicos, grandes empresários, grande advogados, estão ressaltados aqui na cidade de Porto Alegre, nós temos outras pessoas que têm atividades que não são aquelas clássicas, mas que são absolutamente importantes para o cotidiano da Cidade. Manter o Naval é importante para Porto Alegre. Eu, hoje, até falo com alguma mágoa, eu gostaria de poder estar homenageando o Gildo, o Carlinhos, o Osvaldinho, o meu povo do Treviso. O Treviso, que foi fechado, o Treviso, que não continua, o Treviso onde tive, por longo tempo, o meu escritório profissional, que abria lá pelas onze e meia, meia-noite, e que tinha expediente até quando se suportava. Eu sei que outros não tinham escritório lá no Treviso, mas morejavam sempre lá no Naval. Eu até estranho que o Saldanha não esteja conosco no dia de hoje, aqui, mas, certamente, às onze e meia de sábado ele vai estar lá tomando uns três ou quatro chopes e comendo uns dois ou três pastéis.

 

(Aparte inaudível do Sr. Saldanha.)

 

Ô Saldanha, eu sabia que tu não podias faltar! Tu és a minha grande referência do Naval. Estás escondido aí! Mas ao proclamar esses três ou quatro chopes, fui até um pouco modesto, pois com freqüência vais mais longe... E eu sei que tem uma justificativa, porque o chope é bem gelado, é bem servido, é bem tirado, as pessoas que atendem no Naval são quase todas da família do proprietário e, evidentemente, que quando as coisas são tratadas pela família são tratadas com mais carinho, com mais esmero e, sobretudo, com mais competência.

Por isso, eu quero lhe trazer os meus cumprimentos. Cumprimentos de quem anda por aquele Mercado há muito tempo. Inicialmente, ali pela Banca 40, quando não era-me permitido entrar no Bar, naquela época só podia tomar um sorvete; depois, já na maioridade, fui iniciando meio timidamente até me instalar no Treviso. Não sou da confraria do Naval. Estou com inveja do dia de hoje; o Ver. Sebastião Melo me deixou invejoso. Eu queria que estivesse aqui, Ver. Haroldo de Souza, a confraria do Treviso, mas, infelizmente, a maioria deles, só se eu conseguisse trazer por telepatia, porque eles não estão mais conosco. Queria que estivesse aqui o Ferro, meu ajudante do escritório; queria que estivessem aqui os proprietários do Treviso, o Gildo, o Carlinhos, o Osvaldinho, porque todos eles eram teus amigos e eu sei que eles estariam vibrando contigo, porque sabem que na homenagem que o Ver. Sebastião Melo propicia a um comerciante tradicional do Mercado Público, ele está, em última análise, homenageando o próprio Mercado Público, a própria tradição do Mercado Público, que nem mesmo o modernismo conseguiu terminar.

Eu lembro que em 1977, o senhor nos ajudou a fazer aquela pintura no Mercado, era uma reforminha que nós fazíamos para consolidar e para dizer que esse Mercado que querem derrubar, ninguém mais vai derrubar. Foi simples, mas foi objetiva. Mais tarde as mudanças foram muito mais sofisticadas, até se pagou preço alto por essa sofisticação, mas como o Mercado é maior do que qualquer modernismo, a sofisticação não derrubou a tradição. O Naval continua sendo o Naval continua sendo o Naval, o senhor continua oferecendo chope bom, o pastel está cada vez melhor, o bolo de bacalhau não se discute - até sou informado pelo Ver. Sebastião Melo que nós vamos ter uma “canja” no dia de hoje e vamos poder lhe abraçar no próprio local de trabalho, aproveitando aquilo que de melhor o senhor pode oferecer.

O meu abraço, Seu João; o senhor inspirou um goiano a fazer uma homenagem que Porto Alegre lhe devia. Chega de grandes nomes que acumularam riqueza. Vamos tratar daqueles que acumularam reconhecimento e simpatia. E o senhor acumulou, ao longo do tempo, o reconhecimento, a simpatia e, por que não dizer, o carinho de todos nós. Um abraço forte ao senhor. Minha homenagem à sua família que está aqui, como sempre está, e sobretudo uma homenagem àqueles que são a razão de ser do Naval ao longo de todos esses anos: os grandes fregueses do Naval, que eu homenageio na figura do meu irmão, o meu querido amigo Saldanha. Um abraço! (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra pelo Partido Democrático Trabalhista.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Meu caro Presidente da Casa, João Antonio Dib; meu caro homenageado, que hoje recebe o Título de cidadania de fato, Sr. João Fernandes da Costa; Sr. Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários da Câmara Municipal de Porto Alegre, Geraldo Stédile; Sr. Presidente da Casa de Portugal, José Carlos de Miranda. Eu estava numa das anteriores capitais da Província de São Pedro, neste momento. Eu vim de Viamão, e vim correndo, Seu João, porque eu não poderia deixar de participar desta solenidade, que é um marco e eu acho que emblematicamente ela é muito simbólica da Cidade de Porto Alegre. Nesse sentido, foi muito feliz o meu colega Sebastião Melo, ao ter a iniciativa de propor ao senhor o Título de Cidadão de Porto Alegre por Lei Municipal, posto que, de fato, o senhor já era cidadão de Porto Alegre. Digo isso por tudo o que o senhor e a comunidade Lusa representa para a cidade de Porto Alegre, porque esta Cidade tem as suas raízes, tem a sua história, aqui, sedimentada no berço da cultura portuguesa, no berço da civilização açoriana, nos casais açorianos que para cá vieram.

Quero dizer da enorme satisfação em participar neste momento; vim correndo para ser partícipe deste momento de homenagem ao Seu João, à comunidade portuguesa, aos negros, aos fregueses do Bar Naval, à lembrança das figuras que por ali passaram, como a figura que é símbolo do Naval, o nosso saudoso Glênio Peres, Vereador desta Casa, e que tinha ali uma passagem permanente para conversar com a comunidade, para conversar com a nossa gente, porque quem transita pelo Naval e pelo Mercado Público está convivendo intimamente com Porto Alegre, com a sua Cidade.

O senhor, Seu João, e a herança que o senhor carrega, quebra aquele princípio da obra clássica da sociologia “Bandeirantes e Pioneiros”, de Viana Moog, quando fazia um paralelo entre o processo da colonização dos ingleses dos Estados Unidos e a nossa da Portuguesa, quando os portugueses vinham para cá, trabalhavam e depois de amealhar um determinado patrimônio, retornavam à terra querida. O senhor e seu pai, que veio de Lamas – aliás, no Rio de Janeiro tinha um restaurante tradicional de Portugueses, histórico até hoje, no Largo do Machado, que chama-se Lamas; quem sabe não tem lá na Lamas do Volga as suas raízes e as suas origens – vieram para ficar, e eu me orgulho muito. Há pouco, quando eu recebia aqui do meu querido Ver. Sebastião Melo o seu currículo - eu não preciso de currículo para falar do senhor, porque o senhor é uma legenda da Cidade, o senhor já é uma figura de Porto Alegre -, curiosamente nós temos mais uma identidade, ambos, Seu João e eu, somos geminianos de 15 de junho, e mais gente desta Cidade, assim como o cronista do cotidiano desta Cidade, o nosso Paulo Santana, também é do dia 15 de junho.

Eu quero, Ver. Dib, neste momento, nesta Sessão Solene, neste dia em que esta Casa se engalana para receber, no corpo dos seus cidadãos honorários e eméritos, a figura querida do Sr. João Fernandes da Costa, que já era uma figura da Cidade, que já era de Porto Alegre, hoje, o senhor está, definitivamente, incorporado à vida da Cidade, não só por Lei, mas por um reconhecimento geral da representação política da Cidade de Porto Alegre, por esta Casa - a Câmara Municipal -, que resolveu lhe deferir, lhe outorgar o Título de Cidadão de Porto Alegre, a brasileira o senhor já tem por várias outras razões. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): A Ver.ª Margarete Moraes está com a palavra e falará em nome do PT.

 

A SRA. MARGARETE MORAES: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores a quem eu tenho a honra e o orgulho de representar, eu quero assinar embaixo, concordar por esta merecida proposta da autoria do Ver. Sebastião Melo, quando institui o título de Cidadão de Porto Alegre, ou seja, um reconhecimento público ao Sr. João Fernandes da Costa, o João Português, o reconhecimento e o respeito de todos Vereadores e Vereadoras desta Casa que, neste momento, representam a cidade de Porto Alegre, independentes de partidos ou de ideologia.

O famoso João Português, como é conhecido, é uma figura que por sua vez se confunde, é um sinônimo do Bar Naval, que é um símbolo, um símbolo do Mercado Público de Porto Alegre, um símbolo da nossa cultura, a cultura do ponto de vista antropológico, como um encontro entre as pessoas, como aquilo que passa de geração para geração, como um símbolo da arte popular, porque o Bar Naval, sem nenhuma dúvida, ele é reconhecido como um espaço da convivência, espaço de não fazer nada, de jogar conversa fora, onde as pessoas se encontram, conversam e são momentos de amizade, de concordância, de discordância, momentos de conflitos de opiniões, momentos de democracia, de lazer e, como já falei antes, momentos inesquecíveis na vida das pessoas e sempre extremamente civilizatórios. São nesses espaços de convivência, na mesa de um bar que surgem altas idéias civilizatórias, que surge o diálogo entre as pessoas.

O Mercado Público é conhecido por várias situações, como a história dos escravos, o morango com nata, a venda à granel e podemos dizer, sem nenhuma dúvida, sem nenhum medo de errar, que não há quem visite Porto Alegre, que queira ter uma noção mínima da nossa Cidade, que não tenha passado pelo Bar Naval, porque são os pontos turísticos principais, quando temos noção do que significa Porto Alegre: é conhecer o Mercado Público, a Usina do Gasômetro, a Casa de Cultura Mário Quintana e certamente, dentro do Mercado Público, o Bar Naval.

Queremos cumprimentar, mais uma vez, o Ver. Sebastião Melo, por sua bela proposta e toda a comunidade portuguesa aqui presente, representada na figura do nosso homenageado, que, sem nenhuma dúvida, simboliza também e diz respeito à nossa memória, à nossa história, ao sentido de determinado espaço físico. Receba, pois, portanto, Sr. João Português, o reconhecimento e o carinho, também, da Bancada do Partido dos Trabalhadores. (Palmas.) Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Meu caro João Fernandes da Costa, ninguém consegue nada sozinho, e o homenageado sabe muito bem disso. Mas o mais importante sempre é a família. Por isso, neste momento, eu vou convidar a Dona Sulami para, juntamente com o Ver. Sebastião Melo, fazerem a entrega do Diploma e da Medalha de Cidadão de Porto Alegre.

 

(Procede-se à entrega do Título.) (Palmas.)

 

Dando seqüência à homenagem, concedemos a palavra ao novo Cidadão de Porto Alegre, João Fernandes da Costa. (Palmas.)

 

O SR. JOÃO FERNANDES COSTA: Neste momento solene em que eu estou sendo agraciado com tanta honra por esta Casa, eu quero agradecer, em primeiro lugar, ao Ver. Sebastião Melo, proponente desta homenagem, e a esta Casa por ter-me concedido este honroso Título.

Eu vou falar poucas palavras. Eu só quero, de momento, transferir este Título, em especial, às minhas filhas. (Palmas.) Em segundo lugar, aos portugueses. (Palmas.) E, em seguida, ao povo da minha terra, Lamas do Volga. Portanto, este Título é meu, sim, mas, do coração, é para todos os portugueses, todos os amigos que aqui se encontram. Eu nada mais tenho a dizer, por tudo o que foi dito aqui - até demais - sobre a minha pessoa. Eu não sou quase nada, a não ser uma pessoa que nasceu do trabalho - a única coisa que eu gosto é de trabalhar, sempre foi -, e espero que Deus me dê alguns dias de vida para eu continuar a minha luta com a mesma dedicação que sempre tive. Eu só posso agradecer a todos os presentes. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Encaminhamo-nos para o encerramento desta solenidade em que o nosso João Fernandes da Costa recebeu o título de Cidadão de Porto Alegre. A sua forma de se dirigir aos seus amigos, aos Vereadores, à Casa do Povo de Porto Alegre mostra a alma de que ele é possuidor. Eu acredito que ele tenha emocionado a todos nós pela demonstração de carinho para com a sua esposa, suas filhas, seus conterrâneos, seus amigos, seus fregueses; é, realmente, uma pessoa que merece o nosso carinho. Agradeço a presença dos componentes da Mesa e demais presentes e convido todos, para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Damos por encerrada a presente Sessão Solene. A todos, muito boa-noite. Saúde e paz.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h41min.)

 

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