ATA
DA QÜINQUAGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA
ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 02-12-2003.
Aos
dois dias do mês de dezembro de dois mil e três, reuniu-se, no Plenário Otávio
Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às
dezessete horas e vinte e um minutos, constatada a existência de quórum, o
Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à
entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor João
Fernandes da Costa, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 136/03
(Processo nº 2807/03), de autoria do Vereador Sebastião Melo. Compuseram a
MESA: o Vereador João Antonio Dib, Presidente da Câmara Municipal de Porto
Alegre; o Senhor José Carlos de Miranda, Presidente da Casa de Portugal; o
Senhor Geraldo Stédile, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto
Alegre; o Senhor João Fernandes da Costa, Homenageado; o Vereador Sebastião
Melo, na ocasião, Secretário "ad hoc". A seguir, o Senhor Presidente
convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após,
concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador
Sebastião Melo, em nome das Bancadas do PCdoB, PPS e PSB, discorrendo sobre a
trajetória de vida do Homenageado, expôs os motivos que levaram Sua Excelência
a propor o Título hoje entregue, destacando o caráter empreendedor e solidário
demonstrado pelo Senhor João Fernandes da Costa no desempenho de suas
atividades profissionais. Após, o Senhor Presidente registrou o recebimento de
correspondências alusivas à presente solenidade, enviadas pelo Senhor Germano
Rigotto, Governador do Estado do Rio Grande do Sul; pela Senhora Marilene
Bertoncheli, Chefe de Gabinete da Secretaria Estadual de Cultura; pelo Senador
Pedro Simon; pela Senhora Maria Hilda Marsiaj Pinto, Procuradora-Chefe da
Procuradoria Regional da República da 4ª Região; pelo Deputado Estadual Ruy
Pauletti, Presidente da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e
Tecnologia da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; pela
Senhora Talaine Selistre, do Cerimonial da Secretaria Estadual do Trabalho,
Cidadania e Assistência Social, em nome do Senhor Edir Oliveira, Secretário
dessa Pasta; e pelo Senhor Adeli Sell, Secretário Municipal da Produção,
Indústria e Comércio - SMIC. Também, o Senhor Presidente registrou o
recebimento de telefonema do Deputado Federal Alceu Collares, alusivo à
presente solenidade. Em prosseguimento, foi dada continuidade às manifestações
dos Senhores Vereadores. O Vereador Elói Guimarães, em nome da Bancada do PTB,
saudou o Senhor João Fernandes da Costa, afirmando que o Homenageado é um
exemplo de vida dedicada ao trabalho e cujas atividades, junto ao Bar Naval,
foi sempre embasado na integração com a comunidade, transformando-se em
referência cultural e social para Porto Alegre. O Vereador Haroldo de Souza, em
nome das Bancadas do PMDB e do PP, referiu-se à vinda do Senhor João Fernandes
da Costa ao Brasil, citando a presença do Bar Naval em momentos marcantes da
história da Cidade, quando neste estabelecimento foram realizadas reuniões e
debates envolvendo diferentes estilos de vida e ideologias políticas. O
Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, saudou o Homenageado,
procedendo à leitura do poema "Feriado Nacional", de sua autoria,
onde são tecidas análises quanto à magia e à simbologia dos bares e à
importância desses locais de encontro e consagração do ser humano consigo mesmo
e com seus semelhantes. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL,
afirmando ser o Bar Naval ponto de referência em Porto Alegre, ressaltou a
justeza da homenagem hoje prestada pela Casa, como o reconhecimento da
comunidade ao trabalho realizado pelo Senhor João Fernandes da Costa em prol do
engrandecimento humano e cultural do Município. O Vereador Isaac Ainhorn, em
nome da Bancada do PDT, salientando a relevância dos imigrantes portugueses na
construção da Cidade, declarou que a presente homenagem se estende aos
fregueses do Bar Naval e à lembrança das figuras que já transitaram por esse
estabelecimento, mencionando como exemplo o nome do Senhor Glênio Peres,
ex-Vereador desta Casa. A Vereadora Margarete Moraes, em nome da Bancada do PT,
apresentou o Senhor João Fernandes da Costa como cidadão-símbolo do Mercado
Público de Porto Alegre, destacando o trabalho empresarial e cultural realizado
por Sua Senhoria na transformação do Bar Naval em modelo de espaço de convívio,
de debate democrático e de lazer. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou
o Vereador Sebastião Melo e a Senhora Sulami Fernandes da Costa para procederem
à entrega do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de Cidadão de
Porto Alegre ao Senhor João Fernandes da Costa, concedendo a palavra a Sua
Senhoria, que agradeceu o Título recebido. Após, o Senhor Presidente convidou
os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais
havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os
trabalhos às dezoito horas e quarenta e um minutos, convidando a todos para a
Sessão Solene a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelo
Vereador João Antonio Dib e secretariados pelo Vereador Sebastião Melo, como
Secretário "ad hoc". Do que eu, Sebastião Melo, Secretário "ad
hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada,
será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Estão abertos os trabalhos da presente
Sessão Solene. Senhoras e senhores, bem-vindos à Casa do Povo de Porto Alegre.
Nós, neste momento, estamos dando início à outorga do Título Honorífico de
Cidadão de Porto Alegre ao Sr. João Fernandes da Costa. É uma proposta do Ver.
Sebastião Melo e foi aprovada pela unanimidade dos Vereadores desta Casa.
Compõem
a Mesa o nosso homenageado, Sr. João Fernandes da Costa; o Sr. Geraldo Stédile,
Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre, que vai receber,
depois, o nosso João Fernandes da Costa; e o Presidente da Casa de Portugal,
Sr. José Carlos de Miranda. Saúdo a presença dos Vereadores, em especial do
Ver. Sebastião Melo. Minhas senhoras e meus senhores, convidamos todos os
presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.
(Ouve-se
o Hino Nacional.)
Uma
das mais belas poesias que eu conheço sobre Porto Alegre, de autoria do poeta
Antonio Xavier Balbé, é a em que ele diz, referindo-se a Porto Alegre: “As tuas
esquinas são pontos de encontro e não confluências de retas, que, para os
poetas, nada indicam”. Hoje, o nome da moda é point - onde as pessoas se encontram -, mas os point vão trocando, trocando, e trocando. No entanto, os pontos de
encontro, como é a casa do nosso homenageado, o Naval, em que ele está há 40
anos – e a casa tem 96 anos, está como foi criada, não foi nada mudado –, realmente,
seria o ponto de encontro do poeta, porque lá se encontram todas as classes de
porto-alegrenses. Todos aqueles que amam esta Cidade têm uma passagem por lá de
uma ou de outra forma. Mas quem vai dizer melhor das qualidades do nosso
homenageado, neste momento, é o Ver. Sebastião Melo, que é o proponente desta
homenagem, o qual falará em nome das Bancadas do PPS, PSB, PCdoB, além da sua
Bancada, o PMDB.
O
Ver. Sebastião Melo está com a palavra.
O SR. SEBASTIÃO MELO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu quero fazer uma pequena
correção, Sr. Presidente. Eu falo aqui como proponente, e, com muita honra, a
minha Bancada será representada, nesta Tribuna, pelo meu colega Ver. Haroldo de
Souza.
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): A Mesa reconhece o seu erro.
O SR. SEBASTIÃO MELO: Eu queria, de forma muito especial,
saudar a esposa do Seu Manoel, a Dona Sulami, suas filhas Joana e Juliana,
especialmente os amigos e amigas, demais parentes do nosso homenageado. Em
primeiro lugar, meu querido João Fernandes, eu estou Vereador pelo terceiro ano
e é conferido a cada Vereador conceder um Título uma vez por ano. Desta feita,
no ano retrasado, um ex-Vereador desta casa, querido amigo Werner Becker, pediu
que eu assinasse um Título a uma figura magnífica e eu assinei. No ano passado
o Ver. Luiz Braz pediu que eu assinasse um Título a outra figura magnífica e eu
também assinei. Então, sou debutante nesta Casa, o primeiro Título que eu
concedo como Vereador, que foi da minha iniciativa, é o Título que estou
concedendo ao senhor, porque nos demais, merecidos, fui instado pelos meus
colegas Vereadores.
Queria
dizer ao nosso homenageado que nós chegamos nesta Cidade em 1978, sou do
interior de Goiás, e também fui um capinador de roça como o senhor. Só que não
cuidei de oliveiras como o senhor cuidou, lá e aqui, e fui descobrir nesta
caminhada o nosso querido português plantador e cuidador de oliveiras, aliás,
as únicas oliveiras, Ver. Elói Guimarães - plantadas pelo nosso querido João
Português - em vias públicas, na Rua D. Eugênia. Quero dizer que conheço o
Naval desde aquela época, 1978. Talvez nos primeiros três ou quatro anos não
tenha entrado lá, porque naquela época eu era um carregador da CEASA e passava
ali nas madrugadas para carregar as caixas na CEASA e voltava para trabalhar na
lancheria Farroupilha, que era aqui na Rua Fernando Machado. Mas, quando pude
começar a tomar um chope, comecei a freqüentar o Naval. Portanto, nesta
convivência harmônica e extraordinária, Seu João, eu diria que com muita
alegria nós estamos aqui nesta tribuna saudando o senhor. O senhor tem 74 anos,
42 anos de balcão, no comando, como timoneiro do Naval, de um bar que tem 96
anos. Contavam-me num dia desses que ele criou as filhas ali, vinham dormir no
balcão, porque o senhor não podia deixar o balcão e hoje vejo aí moças feitas,
veja que história magnífica. Diziam mais, Miranda, que quando chegou, em 59,
ele já rondava o Mercado Público e de lá para cá o nosso Naval, que
inicialmente era o armazém Naval, transformou-se em Bar Naval, que eu diria: é
um santuário da vida porto-alegrense. Por lá, meus queridos amigos, eu poderia
destacar tantas figuras, mas quero destacar um homem público para nós muito
caro que foi Vice-Prefeito da nossa Cidade, grande líder, que é o Glênio Peres.
O Glênio tinha a sua cadeira reservada no Naval. Mas eu também poderia citar o
nosso ex-Governador do Estado Olívio Dutra, que quantas e quantas vezes, ainda
quando bancário, e, depois, como Governador e como Prefeito, freqüentava o bar.
O nosso Vereador João Antonio Dib me falava do Ver. Elói Guimarães que, quantas
e quantas – não vou dizer noites, Elói! – tardes, Vossa Excelência por lá
estava. Quantas revoluções foram feitas naquelas mesas ali, no nosso Bar do Português.
O Governador Rigotto pediu que lhe transmitisse, meu querido
João Português, um abraço muito fraterno. Depois, o Presidente, com certeza,
vai-lhe repassar uma correspondência - não está aqui, porque não pôde estar -
dizendo do carinho especial que tem pelo Bar Naval e dizendo que, na sua
caminhada para Governador, agora, aqui em Porto Alegre, a sua primeira aparição
pública foi no Bar Naval, vejam como é referencial.
Também
o nosso Vice-Governador, que estaria hoje presente, e poderia dizer de tantas
outras figuras, mas eu gostaria de dizer que, se por um lado ele é freqüentado
por políticos, também lá esteve nada mais, nada menos do que aquele que foi e
continua sendo imortal para todos os brasileiros, o maior poeta, não do Rio
Grande, mas do Brasil, que é Lupicínio Rodrigues, que também tinha cadeira
cativa no nosso querido Naval, juntamente com o seu mano, o nosso poeta Carlos
Nejar, o Vilson Ferreira, o maior cantor de tango que essa Cidade teve. Isso
tudo passou, uns foram e muitos outros continuam no nosso querido Naval.
Por
isso, nós poderíamos dizer que o Naval, Sr. Presidente Dib, como disse Vossa
Excelência, é um estuário de advogados, juízes, funcionários públicos,
intelectuais e jornalistas, mas, acima de tudo, ele é freqüentado pelo homem do
povo, pelo estivador, pelo trabalhador, pelo ambulante. Lá se misturam negros,
brancos, amarelos, ricos e pobres nesse mix
que é o nosso querido Bar Naval, que é um referencial da cidade de Porto
Alegre.
Então,
por isso, quando esta Casa, pelo conjunto de seus Vereadores, meu querido João
Português, de forma unânime, faz esta homenagem, eu diria que é um resgate, um
resgate à história desta Cidade, de alguém que deixou uma outra pátria, irmã,
que é a nossa querida Portugal, da nossa freguesia, de Lamas de Volga, e aqui
se aquerenciou, contribuindo muito para a vida desta Cidade. Uma Cidade que não
tem um centro referencial, não é uma cidade que tem história. O Mercado é a
história viva da nossa cidade de Porto Alegre, e o Bar Naval, mesmo na sua reformulação,
o nosso querido João fez com que preservasse, ali, as características
históricas do nosso Mercado, naquele cantinho que é o Bar Naval.
Portanto,
meus amigos, com muita alegria e muito gosto nós estamos aqui, nesta tarde de
hoje - memorável, Ver. Cláudio Sebenelo -, homenageando um trabalhador, um
lutador, um empreendedor, um homem que faz parte desta Cidade magnífica, que
aqui consegue acolher gente de todos os estados brasileiros e de todas as
pátrias, e que se transforma em porto-alegrense.
E
o senhor, Seu João, quando esta Casa lhe concede este Título, está dizendo
muito obrigado não pelo o que o senhor fez, mas muito pelo o que vai fazer, por
ser muito novo, ter muita disposição e por estar naquele balcão dia e noite.
Então, esta homenagem não é pela aposentadoria, mas para continuar a caminhada,
porque a caminhada do senhor nos orgulha, porque o senhor é um trabalhador, um
homem dedicado, levanta cedo e dorme tarde, honrando a nossa cidade de Porto
Alegre, o nosso Estado, o nosso País.
Eu
poderia citar magníficas pessoas, eu vejo, por exemplo, o nosso querido Paulo;
se o Português tem 42 anos, o Paulo tem 47 anos de Naval, porque vem de antes,
vejam que magnífica parceria! Eu diria que é mais do que um funcionário, é um
sócio desse empreendimento. Queria também registrar os nossos cumprimentos, de
forma muito efusiva, ao Mauro, que tem 24 anos de casa e atende, com muito
brilhantismo, todas as vezes que os clientes lá estão. Queria cumprimentar a D.
Natércia Duarte, cunhada do homenageado, que foi sucessora do Sr. Manoel da
Costa, irmão do nosso homenageado, que também hoje faz parte do bar.
Para
finalizar, o nosso homenageado me dizia que a sua irmã, a Maria Fernandes da
Costa, com um gesto de humanismo ficou em Portugal cuidando dos seus pais - até
que eles fossem transportado a um outro patamar da vida terrena -, e, com gesto
de grandeza, de bondade, trouxe-a para Porto Alegre e hoje convive no seu lar.
Portanto, atitudes como essas dignificam a caminhada humana. Mas queria dizer
que há uma questão, entre tantas, que nós podíamos destacar: o cidadão que vai
ao Naval, toma um trago e não paga, o Português, que não tem caderno, anota na
bolacha do chope; e o pior é que estão devendo tanto que não há mais lugar para
botar as bolachas de chope. Então, uma hora dessas nós vamos ter de fazer um
leilão dessas bolachas, e vamos encontrar muita gente boa lá naquelas bolachas.
Por
isso, meu Presidente, meu homenageado, familiares, amigos, é uma tarde de
alegria muito grande para esse goiano de nascimento e gaúcho de coração, que
não viu o Naval nascer, mas que já em 1978 passava ali naquela porta, no rumo
do Linha-2 do Navegante para a CEASA.
Portanto,
é com muita alegria, o senhor com 42 anos no Naval, que esta Cidade, que me
acolheu, me transformou Vereador, prestar-lhe esta modesta e singela homenagem,
mas eu diria que é de coração, de alma e de sentimento. Parabéns, Sr. João
Fernandes da Costa. Saúde! Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Sobre a Mesa as seguintes
correspondências dirigidas ao nosso homenageado: do Sr. Governador do Estado,
Dr. Germano Rigotto: “Nossa Capital é rica em cidadãos que, como Vossa
Senhoria, enriquecem a maravilhosa história do cotidiano com sua dedicação e
seu labor. Não é possível retratar o Mercado Público e o Centro de Porto Alegre
sem citar o Bar Naval e seu proprietário”. E assim ele encaminha o seu abraço
ao proprietário e aos que lá com ele labutam no dia-a-dia. O Deputado Alceu
Collares telefona dizendo da impossibilidade de estar presente, mas de coração
diz que aqui está. A Sra. Marilene Bertoncheli, Chefe de Gabinete da Secretaria
de Cultura, em nome do Secretário, cumprimenta o homenageado. O Senador Pedro
Simon, cumprimenta pelo recebimento do Título, felicitando-o pela merecida
homenagem. O Ver. Adeli Sell, Secretário Municipal da Produção, Indústria e
Comércio cumprimenta o nosso homenageado e os que com ele trabalham no Naval. A
Dona Maria Hilda Marsiaj Pinto, Procuradora-Chefe da 4ª Região, cumprimenta o Ver.
Sebastião Melo e também o homenageado. Sr.ª Talaine Selistre, do Cerimonial da
Secretaria do Trabalho, Cidadania e Assistência Social, em nome do Dep. Federal
Edir Oliveira, que é o Secretário, cumprimenta o Ver. Sebastião Melo e também o
homenageado. O Prof. Ruy Pauletti, Dep. Estadual, cumprimenta o novo Cidadão de
Porto Alegre, o Sr. João Fernandes da Costa, e também cumprimenta o Ver.
Sebastião Melo e a Câmara pela iniciativa. Outras mensagens devem estar
chegando no nosso Gabinete e depois serão levadas às mãos do nosso homenageado.
O
Ver. Elói Guimarães está com a palavra e falará em nome do PTB.
O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Saúdo a esposa,
filhas, parentes, enfim, do homenageado; o Ângelo, e, mencionando o seu nome,
eu quero mencionar todos os permissionários do Mercado Público; em especial, os
clientes, os fregueses, a freguesia do Naval, que são amigos do homenageado, o
João Fernandes. Ver. Sebastião Melo, esta é uma homenagem extremamente
importante, na medida em que, na pessoa do João, nós estamos homenageando os
portugueses, muitos aqui presentes; estamos homenageando o Mercado Público e
também estamos homenageando os restaurantes e bares como espaços
sócio-culturais.
Gostaria
de dizer da figura do homenageado, de todos conhecida, é muito simples: é um
homem de bem, uma figura notável da nossa Cidade, diuturnamente no seu posto,
no seu trabalho; é um homem que faz do trabalho uma verdadeira devoção e a ele
se dedica intensamente.
Quando
se fala na figura do homenageado, nós não podemos deixar de citar aquilo que o
cerca. E é como dizia Ortega y Gasset: “O homem e as suas circunstâncias”. O
bar e o restaurante estão nas circunstâncias do nosso homenageado, do nosso
Cidadão, o João Fernandes, pelo que ele significa para a Cidade, na medida em
que ele se integra a um complexo cultural, social da cidade de Porto Alegre,
que é o Mercado Público, patrimônio de todos nós, patrimônio da Cidade.
Por
outro lado, o bar, o restaurante, o que isso significa para as pessoas,
independentemente de as pessoas comparecerem lá para tomar o seu chopezinho, o
seu drinque, o seu “martelinho", para comer um bacalhau? O que isso
representa? Isso é extremamente importante. O bar é uma instituição nacional,
sim; é ali que as pessoas se encontram, pessoas que, por certo, jamais se
comunicariam não fora aquele espaço. E o Naval é um símbolo disso. Não fora
aquele espaço, as pessoas não teriam oportunidade de se integrar, de se inteirar
de todos os assuntos que envolvem o dia-a-dia de todos nós.
O
autor da homenagem mencionou os seus freqüentadores. A Câmara, quando estava
ali, João, na chamada Prefeitura Nova - como é mais conhecida -, nós
freqüentávamos quase que assiduamente, Chaves – tu, que também és um
freqüentador do Naval -, ou quase que sistematicamente ali nos encontrávamos. E
o Melo mencionou a figura do Glênio Peres e de tantos outros, quando nos
reuníamos ali por horas e horas, discutindo os mais diferentes assuntos da Cidade,
do Estado e do País. O Bar é um vício, o Naval é um clube, João. A Cidade tem
um clube que se chama Naval, ali estão seus freqüentadores permanentes, até
porque ali tem um garçom poeta, o Paulo “Naval”, poeta popular; um homem que
absorveu tudo que ali se produz e começou a escrever brilhantes poesias
populares.
Então,
é um momento importante para a cidade de Porto Alegre. Eu tenho dito e
reiterado desta tribuna: quem quer agradecer, João, não é o Vereador, não são
os Vereadores: é a Cidade, é a Cidade que está te homenageando. Este Título, a
Cidade está entregando por intermédio da Câmara Municipal de Porto Alegre, por
proposição do Ver. Sebastião Melo, pelo que tu tens feito; pelo que tu
representas, como pessoa, como ser humano, como homem de valor, símbolo de
trabalho, mas pelo que representa também essa instituição que tu tens, que se
chama vulgarmente de bar ou restaurante, mas que é um espaço importante, eu
diria sagrado; é ali que nós sentamos e pedimos um chopinho e pedimos outro e
vamos conversando. Temos momentos agradabilíssimos, Presidente, no bar, onde
discutimos os assuntos e onde se resolve problemas, sim; onde se discute
política, futebol, fazem-se negócios. E muitas vezes se marca: vamos nos
encontrar no Naval para resolver esse ou aquele problema. O bar, o restaurante
tem esse fantástico significado, que é um espaço de encontro, é um espaço
social onde as pessoas se reúnem, se conhecem.
O
que seria, muitas vezes, de uma cidade se não houvesse esses espaços, se não
houvesse um espaço como o Naval, João? Como o teu restaurante, o teu bar, tão
bem servido por ti, contigo, ali? Evidentemente, sempre meio perto da caixa, é
claro - isso é o natural, é o óbvio -, mas sempre trabalhando diuturnamente,
diariamente, alegre, simpático, transmitindo endorfina e alegria para os teus
fregueses, naquele entretenimento magnífico que tem o bar e que realiza o bar
para as pessoas.
Ali
se faz história, sim; faz-se a história de Porto Alegre no Naval. Portanto, o
Naval é uma instituição de Porto Alegre, é um patrimônio da Cidade.
Dessa
forma, João, neste dia magnífico em que tu recebes o Título de Cidadão de Porto
Alegre, recebe o agradecimento e a saudação do meu Partido. E que tu continues
assim, sempre jovem, simpático, alegre, comunicativo, enfim, cumprindo a tua
missão de fazer exatamente o entretenimento, a aproximação das pessoas naquele
espaço social e sagrado, que é o restaurante e o bar. Obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Elói Guimarães falou pelo seu
Partido, o Partido Trabalhista Brasileiro.
O
Ver. Haroldo de Souza está com a palavra e falará pelo seu partido, o PMDB, e
pelo meu, o Partido Progressista.
O SR. HAROLDO DE SOUZA: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Falo com orgulho
em nome do Partido do Presidente da Casa e do nosso PMDB.
No
dia 15 de julho de 1929, na Freguesia de Lamas do Volga, no Município de
Águeda, Distrito de Aveiro, nascia, na Pátria-Mãe Portugal, o Sr. João
Fernandes da Costa. O Seu Joaquim e a D. Felismina certamente não imaginariam
que aquele menino que chegava ali no bairro do Volga teria uma história a ser
escrita no outro lado do Atlântico, uma história bonita, uma história dentro da
história de Porto Alegre.
O
menino João Fernandes veio ao mundo num local de rara beleza, às margens do rio
Volga, - que conheço, graças a Deus -, onde se podem encontrar profundos
vestígios de edificações mouras, com uma ponte de pedra para a travessia do rio
com a idade de 3 mil anos, ele escreve história, porque ele vem de história.
Tenho
por costume só falar em homenagens onde sejam tocados o meu coração e a minha
emoção. E tendo eu um Projeto na Casa para as ruas da nossa Porto Alegre, para
que tenham milhares de árvores frutíferas, chamou-me a atenção que aquele
menino do Bairro de Volga, hoje com 74 anos de vida, encontrou tempo, só ele,
para plantar mais de mil árvores, sendo que parte delas estão no trabalho de
plantio feito na Rua Dona Eugênia, em nossa Capital. O Sr. João Fernandes
plantou ali 857 mudas de oliveiras que ainda hoje fornecem azeitonas de
excelente qualidade, prova eloqüente de seu amor pela natureza. E quem ama a
natureza sempre é gente boa, aberta para o diálogo, para a amizade e para a vida.
E
o pinheiro português, Sr. João? O Sr. João que chegou aqui em 1958; com 28 anos
de idade, ajuda a escrever a história de um dos redutos culturais, artísticos e
políticos de grande influência da cidade de Porto Alegre. O Bar Naval é parte
da história da Cidade, já reuniu gente graúda e gente miúda; o Bar Naval,
comandado pelo Sr. João, é um local onde se encontram todas as pessoas com as
mais diferentes ideologias políticas, notadamente nos momentos em que parte da
história do Cidade, do Estado e do País, passaram por ali, continuam passando e
vai passar para o sempre. O sempre Governador Alceu Collares; o grande Carlos
Nejar; o Sr. Olívio Dutra e os seus sonhos de bancário e Governador; o meu
querido e saudoso amigo de tantas incursões na boêmia - que saudade! -, Glênio
Peres; o inigualável Lupicínio Rodrigues, com o Chiquinho; o fantástico
pandeirista Veludo; o grande tocador de violão, o velho Zico; o Presidente
Lula, ainda em campanha; o brilhante professor, meu amigo Ruy Carlos Ostermann;
milhares de jornalistas, políticos, atores, cantores, poetas e compositores,
gente famosa e gente simples. O Bar Naval, que o Sr. João comanda com tanta
simpatia, cordialidade, capricho e carinho, é uma casa de todos, porque é um
bar onde nos sentimos como em nossas casas.
No
Bar Naval, o Sr. João Fernandes, o homenageado de hoje nesta Casa, recebe do
estivador do cais ao Desembargador, com a mesma igualdade, e, por isso, é um
dos locais mais agradáveis de nossa Cidade. Na história dos 42 anos da casa, o
Bar Naval, por intermédio do Sr. João Fernandes, foi testemunha de momentos de
turbulência da vida da Cidade, da vida nacional. Na reforma legalista de 1964,
serviu de refúgio para fregueses e transeuntes que por ali circulavam no
momento de violência, com incêndio de veículos e tiroteios.
E
ainda teve de passar por uma Lei, aprovada nesta Casa, a qual proibia que
bebidas alcóolicas fossem servidas ali e no Chalé da Praça XV, outro local de
encontro da vida porto-alegrense nos finais da tarde. Mas como um salgadinho sem
um chope gelado e um martelinho para quebrar o gelo? Como um bolinho de
bacalhau sem um chope? Como, meu amigo Dirceu? De que jeito, garçom Paulo? Dá a
saideira meu! Que idéia mais biruta! E que Projeto mais esdrúxulo! Uma Lei que
passou, e o então Prefeito Collares tomou medidas: olhando da janela de seu
gabinete as portas do Naval fechadas, ordenou providências de imediato. E com a
assinatura de todos os proprietários e freqüentadores dos estabelecimentos do
Mercado Público, encaminhou pedido a esta Casa, e a Lei foi derrubada. Uma Lei
que ainda permanecia só no papel, mas que causava estragos na vida social da
Cidade. Que diga o meu amigo Kenny Braga e tantos outros! Figuras fantásticas
da vida da Cidade, impossível nominá-las todas aqui e agora.
João
Fernandes da Costa, um simpático português do Estado de Aveiro, é o mais novo
Cidadão Honorífico de Porto Alegre por proposição do Ver. Sebastião Melo - que
ainda vai chegar a Prefeito da Cidade, um goiano que escolheu Porto Alegre para
também desenvolver a sua aptidão de gente do povo, dos sonhos, dos projetos,
dessa gente -, que viu, com razão, o direito e a justiça no pedido para se
homenagear o pai da Joana e da Juliana e o dedicado esposo de Sulami.
Receba,
Sr. João, a homenagem mais uma vez do PMDB e de todos os membros desta Casa, do
Presidente João Dib, do PP, mas, principalmente, da comunidade porto-alegrense,
de forma muito especial e carinhosa dos seus milhares e milhares de amigos e
amigas feitos ao longo desses 42 anos de existência desse pedaço da história de
nossa Cidade.
João
Fernandes, que mais 26 anos o senhor possa colocar em sua agenda de vida para
cuidar do Naval para todos nós. E que, juntos, possamos, em breve, comemorar
aqui e lá, evidentemente, o meio século de vida desse estabelecimento que deve
constar como um dos pontos turísticos da nossa Capital, com a mesma paixão, com
o suor de seu trabalho e com o agradecimento de todos nós, porque, naquele dia,
15 de junho de 1919, Deus ter trazido ao mundo através de Sr. Joaquim e de Dona
Felismina essa figura gigantesca de carinho, respeito e de trabalho para a
nossa Cidade. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Cláudio Sebenelo falará em nome da
Bancada do PSDB.
O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Sr. Proponente desta homenagem,
Ver. Sebastião Melo, que, num momento de profunda inspiração, nos proporciona
este momento nesta Casa, hoje, onde eu vejo intelectuais, a fina flor da
sociedade, a fina flor do outro lado social, os mais pobres, os mais ricos, o
Paulo Naval, o Dirceu, mas vejo também, inclusive, a esposa, a Sulami, as
filhas. É um momento fantástico desta Cidade, porque as cidades são feitas de
avenidas projetadas, de ruas espontâneas, de casas, de casarios, um ao lado do
outro, de edifícios imensos, muitas vezes, de calçadas, de campos de futebol,
de botecos e de esquinas. Mas o que nós vulgarmente chamamos de boteco - é a
abreviatura do botequim, que é a pequena botica, do boticário, que mexia com
substâncias, entre elas o álcool, para fazer bebidas improvisadas, no fundo das
farmácias - é o lugar de reunião, esse é um lugar que não tem definição. Eu
sempre disse que alguém, algum dia, ia escrever alguma coisa sobre os botecos.
E eu me lembro que, menino, pela mão do meu pai, eu passava pelo Treviso, pelo
Guarachaim, pelo Gambrinus, pelo Naval, no Mercado, que era o “centro nervoso”
de Porto Alegre, porque não existiam supermercados, não existiam shopping. E todos os sábados nós
fazíamos verdadeiros ranchos no Mercado e levávamos para casa, e no fim, então,
o meu pai sentava num desses bares conosco, com a filharada, e era uma festa
muito grande. E o Naval, para mim, é inesquecível. Inesquecível como a definição
(Lê.): “Dia destes, qualquer,/ um filósofo, um poeta,/ um scholar ou um sonhador,/ chamará para si, se quiser,/ a imensa
responsabilidade/ de explicar, por que o homem/ troca sua casa, até sua cama,/
pelo psicodrama da mesa de um bar.
Pelo
menos à beira-mar, filosofará o poeta/ na sedizente chatice/ da metafísica
transcendente,/ não objetiva, promessa,/ que virou premissa,/ como o grande
amor Alice,/ como da tela o esplendor,/ como da vela a chama/ como o colarinho,
espuma da Brahma.
Pelo
menos um verso alexandrino, exclamará o filósofo/ hipócrita. Finda a doméstica
ternura/ substituem-na pelos amigos à mesa/ como prótese inteiriça,
“beleza-pura”,/ sorridente, preenchendo a despesa/ decadente, uniforme, sem
noção/ de estética, a se encaixar entre as perdas/ da vida, banguela, que um
dia, sem mágoa/ passou a ser terceira e definitiva dentição.
Pelo
menos, um copo d’água, racionalizará o scholar,/
pois nele o sorriso e o líquido são sinceros,/ no halterocopismo das grandes
peleias,/ na mesa, libando às mancheias,/ o abdômen globoso, crescente,/ o chopp e os corações/ batendo e
estupidamente gelados,/ debatem calados, o calor,/ e a solidariedade...
humanas.
Pelo
menos, mais amenos, quimerará o sonhador/ na madrugada, de importância
somenos,/ onde a mediocridade brilha, mais ou menos,/ no paraíso dos quase, o
aspone declama Neruda/ que ajuda mas não cobre os cios das cadelas,/ não enche
delas a solidão dos vazios/ existenciais, das traças, das taças, os cristais,/
nem muda esta identidade perdida. Não mais/ nos copos, nem dos corpos, as
impressões digitais.../
Pelo
menos, mais um engov, eructará a
vítima/ de si próprio, do relógio, das horas,/ tão escuro, tudo rodando,/ roda
roleta do destino,/ roda a chave na porta, tudo de novo/ de quimono, a mulher
morta/ de sono, os oito filhos e o boêmio/(fanático pelo Grêmio...)/ ébrio,
impávido, irracional.
Pelo
menos, um feriado nacional!”
Essa
é a definição mais linda que já vi de um boteco; essa é a definição daquele que
nós falamos hoje, que homenageamos, que é o dono desse boteco.
E
não há coisa mais linda do que uma cidade homenagear as suas figuras.
Hoje
o professor Luís Augusto Fischer, no jornal Zero Hora, falava de Bataclã, que
foi uma figura fantástica da Cidade, e que hoje é nome de rua; um dia, João
Fernandes, na obra prima que construíste a vida inteira, que é esta relação
maravilhosa com essas pessoas que estão aqui, certamente, terás o prazer de
olhar para trás e ver que construíste também esta Cidade.
Esta
Cidade não é de um português; ela é de um porto-alegrense chamado João
Fernandes da Costa, a Cidade que oferece para ti a sua população, esta
primavera linda de Porto Alegre e, principalmente, todos os amores que há em
cada um dos corações. É isso aí, tudo teu! Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Reginaldo Pujol está com a
palavra.
O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sras.
Vereadoras. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Corro o risco de
ser repetitivo para alguns dos colegas Vereadores, eu preciso, inicialmente,
acentuar uma circunstância. Sou o último orador desta solenidade, em função de
disposição do Regimento Interno, que determina que aquelas Bancadas pequenas
falem por derradeiro. Como eu sou integrante do Partido da Frente Liberal,
Partido que tem um único Vereador na Casa, no momento, que sou eu, isso faz com
que eu fique por último. Diz a máxima Bíblia que “os últimos serão os
primeiros”. Eu espero ser um dos primeiros a não contaminar esta homenagem,
que, com tanto carinho, a cidade de Porto Alegre está prestando hoje ao nosso
querido João Português, por iniciativa do Ver. Sebastião Melo, a quem saúdo
pela sensibilidade. Em verdade, eu acho que levou tempo, 74 anos, desde a sua
vinda para Porto Alegre para que houvesse este reconhecimento, mas nunca é
tarde para que as boas coisas que acontecem na Cidade sejam proclamadas nesta
casa do Povo, que é representada por todas as correntes de opinião pública.
Observa-se,
com muita freqüência, que alguns fatos unem os Vereadores, independentemente de
suas posições políticas; um deles eu tenho sustentado como sendo uma linha de
conduta, é que cada um tem de ser ressaltado naquilo que ele sabe fazer bem.
Assim como nós temos pessoas que são grandes médicos, grandes empresários,
grande advogados, estão ressaltados aqui na cidade de Porto Alegre, nós temos
outras pessoas que têm atividades que não são aquelas clássicas, mas que são
absolutamente importantes para o cotidiano da Cidade. Manter o Naval é importante
para Porto Alegre. Eu, hoje, até falo com alguma mágoa, eu gostaria de poder
estar homenageando o Gildo, o Carlinhos, o Osvaldinho, o meu povo do Treviso. O
Treviso, que foi fechado, o Treviso, que não continua, o Treviso onde tive, por
longo tempo, o meu escritório profissional, que abria lá pelas onze e meia,
meia-noite, e que tinha expediente até quando se suportava. Eu sei que outros
não tinham escritório lá no Treviso, mas morejavam sempre lá no Naval. Eu até
estranho que o Saldanha não esteja conosco no dia de hoje, aqui, mas,
certamente, às onze e meia de sábado ele vai estar lá tomando uns três ou
quatro chopes e comendo uns dois ou três pastéis.
(Aparte
inaudível do Sr. Saldanha.)
Ô
Saldanha, eu sabia que tu não podias faltar! Tu és a minha grande referência do
Naval. Estás escondido aí! Mas ao proclamar esses três ou quatro chopes, fui
até um pouco modesto, pois com freqüência vais mais longe... E eu sei que tem
uma justificativa, porque o chope é bem gelado, é bem servido, é bem tirado, as
pessoas que atendem no Naval são quase todas da família do proprietário e,
evidentemente, que quando as coisas são tratadas pela família são tratadas com
mais carinho, com mais esmero e, sobretudo, com mais competência.
Por
isso, eu quero lhe trazer os meus cumprimentos. Cumprimentos de quem anda por
aquele Mercado há muito tempo. Inicialmente, ali pela Banca 40, quando não
era-me permitido entrar no Bar, naquela época só podia tomar um sorvete;
depois, já na maioridade, fui iniciando meio timidamente até me instalar no
Treviso. Não sou da confraria do Naval. Estou com inveja do dia de hoje; o Ver.
Sebastião Melo me deixou invejoso. Eu queria que estivesse aqui, Ver. Haroldo
de Souza, a confraria do Treviso, mas, infelizmente, a maioria deles, só se eu
conseguisse trazer por telepatia, porque eles não estão mais conosco. Queria
que estivesse aqui o Ferro, meu ajudante do escritório; queria que estivessem
aqui os proprietários do Treviso, o Gildo, o Carlinhos, o Osvaldinho, porque
todos eles eram teus amigos e eu sei que eles estariam vibrando contigo, porque
sabem que na homenagem que o Ver. Sebastião Melo propicia a um comerciante
tradicional do Mercado Público, ele está, em última análise, homenageando o
próprio Mercado Público, a própria tradição do Mercado Público, que nem mesmo o
modernismo conseguiu terminar.
Eu
lembro que em 1977, o senhor nos ajudou a fazer aquela pintura no Mercado, era
uma reforminha que nós fazíamos para consolidar e para dizer que esse Mercado
que querem derrubar, ninguém mais vai derrubar. Foi simples, mas foi objetiva.
Mais tarde as mudanças foram muito mais sofisticadas, até se pagou preço alto
por essa sofisticação, mas como o Mercado é maior do que qualquer modernismo, a
sofisticação não derrubou a tradição. O Naval continua sendo o Naval continua
sendo o Naval, o senhor continua oferecendo chope bom, o pastel está cada vez
melhor, o bolo de bacalhau não se discute - até sou informado pelo Ver.
Sebastião Melo que nós vamos ter uma “canja” no dia de hoje e vamos poder lhe
abraçar no próprio local de trabalho, aproveitando aquilo que de melhor o
senhor pode oferecer.
O
meu abraço, Seu João; o senhor inspirou um goiano a fazer uma homenagem que
Porto Alegre lhe devia. Chega de grandes nomes que acumularam riqueza. Vamos
tratar daqueles que acumularam reconhecimento e simpatia. E o senhor acumulou,
ao longo do tempo, o reconhecimento, a simpatia e, por que não dizer, o carinho
de todos nós. Um abraço forte ao senhor. Minha homenagem à sua família que está
aqui, como sempre está, e sobretudo uma homenagem àqueles que são a razão de
ser do Naval ao longo de todos esses anos: os grandes fregueses do Naval, que
eu homenageio na figura do meu irmão, o meu querido amigo Saldanha. Um abraço!
(Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra
pelo Partido Democrático Trabalhista.
O SR. ISAAC AINHORN: Meu caro Presidente da Casa, João Antonio
Dib; meu caro homenageado, que hoje recebe o Título de cidadania de fato, Sr.
João Fernandes da Costa; Sr. Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários da
Câmara Municipal de Porto Alegre, Geraldo Stédile; Sr. Presidente da Casa de
Portugal, José Carlos de Miranda. Eu estava numa das anteriores capitais da
Província de São Pedro, neste momento. Eu vim de Viamão, e vim correndo, Seu
João, porque eu não poderia deixar de participar desta solenidade, que é um
marco e eu acho que emblematicamente ela é muito simbólica da Cidade de Porto
Alegre. Nesse sentido, foi muito feliz o meu colega Sebastião Melo, ao ter a
iniciativa de propor ao senhor o Título de Cidadão de Porto Alegre por Lei
Municipal, posto que, de fato, o senhor já era cidadão de Porto Alegre. Digo
isso por tudo o que o senhor e a comunidade Lusa representa para a cidade de
Porto Alegre, porque esta Cidade tem as suas raízes, tem a sua história, aqui,
sedimentada no berço da cultura portuguesa, no berço da civilização açoriana,
nos casais açorianos que para cá vieram.
Quero
dizer da enorme satisfação em participar neste momento; vim correndo para ser
partícipe deste momento de homenagem ao Seu João, à comunidade portuguesa, aos
negros, aos fregueses do Bar Naval, à lembrança das figuras que por ali
passaram, como a figura que é símbolo do Naval, o nosso saudoso Glênio Peres,
Vereador desta Casa, e que tinha ali uma passagem permanente para conversar com
a comunidade, para conversar com a nossa gente, porque quem transita pelo Naval
e pelo Mercado Público está convivendo intimamente com Porto Alegre, com a sua
Cidade.
O
senhor, Seu João, e a herança que o senhor carrega, quebra aquele princípio da
obra clássica da sociologia “Bandeirantes e Pioneiros”, de Viana Moog, quando
fazia um paralelo entre o processo da colonização dos ingleses dos Estados
Unidos e a nossa da Portuguesa, quando os portugueses vinham para cá,
trabalhavam e depois de amealhar um determinado patrimônio, retornavam à terra
querida. O senhor e seu pai, que veio de Lamas – aliás, no Rio de Janeiro tinha
um restaurante tradicional de Portugueses, histórico até hoje, no Largo do
Machado, que chama-se Lamas; quem sabe não tem lá na Lamas do Volga as suas
raízes e as suas origens – vieram para ficar, e eu me orgulho muito. Há pouco,
quando eu recebia aqui do meu querido Ver. Sebastião Melo o seu currículo - eu
não preciso de currículo para falar do senhor, porque o senhor é uma legenda da
Cidade, o senhor já é uma figura de Porto Alegre -, curiosamente nós temos mais
uma identidade, ambos, Seu João e eu, somos geminianos de 15 de junho, e mais
gente desta Cidade, assim como o cronista do cotidiano desta Cidade, o nosso
Paulo Santana, também é do dia 15 de junho.
Eu
quero, Ver. Dib, neste momento, nesta Sessão Solene, neste dia em que esta Casa
se engalana para receber, no corpo dos seus cidadãos honorários e eméritos, a
figura querida do Sr. João Fernandes da Costa, que já era uma figura da Cidade,
que já era de Porto Alegre, hoje, o senhor está, definitivamente, incorporado à
vida da Cidade, não só por Lei, mas por um reconhecimento geral da
representação política da Cidade de Porto Alegre, por esta Casa - a Câmara
Municipal -, que resolveu lhe deferir, lhe outorgar o Título de Cidadão de
Porto Alegre, a brasileira o senhor já tem por várias outras razões. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): A Ver.ª Margarete Moraes está com a
palavra e falará em nome do PT.
A SRA. MARGARETE MORAES: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Em nome da
Bancada do Partido dos Trabalhadores a quem eu tenho a honra e o orgulho de
representar, eu quero assinar embaixo, concordar por esta merecida proposta da
autoria do Ver. Sebastião Melo, quando institui o título de Cidadão de Porto
Alegre, ou seja, um reconhecimento público ao Sr. João Fernandes da Costa, o
João Português, o reconhecimento e o respeito de todos Vereadores e Vereadoras
desta Casa que, neste momento, representam a cidade de Porto Alegre,
independentes de partidos ou de ideologia.
O
famoso João Português, como é conhecido, é uma figura que por sua vez se
confunde, é um sinônimo do Bar Naval, que é um símbolo, um símbolo do Mercado
Público de Porto Alegre, um símbolo da nossa cultura, a cultura do ponto de
vista antropológico, como um encontro entre as pessoas, como aquilo que passa
de geração para geração, como um símbolo da arte popular, porque o Bar Naval,
sem nenhuma dúvida, ele é reconhecido como um espaço da convivência, espaço de
não fazer nada, de jogar conversa fora, onde as pessoas se encontram, conversam
e são momentos de amizade, de concordância, de discordância, momentos de
conflitos de opiniões, momentos de democracia, de lazer e, como já falei antes,
momentos inesquecíveis na vida das pessoas e sempre extremamente
civilizatórios. São nesses espaços de convivência, na mesa de um bar que surgem
altas idéias civilizatórias, que surge o diálogo entre as pessoas.
O
Mercado Público é conhecido por várias situações, como a história dos escravos,
o morango com nata, a venda à granel e podemos dizer, sem nenhuma dúvida, sem
nenhum medo de errar, que não há quem visite Porto Alegre, que queira ter uma
noção mínima da nossa Cidade, que não tenha passado pelo Bar Naval, porque são
os pontos turísticos principais, quando temos noção do que significa Porto
Alegre: é conhecer o Mercado Público, a Usina do Gasômetro, a Casa de Cultura
Mário Quintana e certamente, dentro do Mercado Público, o Bar Naval.
Queremos
cumprimentar, mais uma vez, o Ver. Sebastião Melo, por sua bela proposta e toda
a comunidade portuguesa aqui presente, representada na figura do nosso
homenageado, que, sem nenhuma dúvida, simboliza também e diz respeito à nossa
memória, à nossa história, ao sentido de determinado espaço físico. Receba,
pois, portanto, Sr. João Português, o reconhecimento e o carinho, também, da
Bancada do Partido dos Trabalhadores. (Palmas.) Muito obrigada.
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Meu caro João Fernandes da Costa, ninguém
consegue nada sozinho, e o homenageado sabe muito bem disso. Mas o mais importante
sempre é a família. Por isso, neste momento, eu vou convidar a Dona Sulami
para, juntamente com o Ver. Sebastião Melo, fazerem a entrega do Diploma e da
Medalha de Cidadão de Porto Alegre.
(Procede-se
à entrega do Título.) (Palmas.)
Dando
seqüência à homenagem, concedemos a palavra ao novo Cidadão de Porto Alegre,
João Fernandes da Costa. (Palmas.)
O SR. JOÃO FERNANDES COSTA: Neste momento solene em que eu estou
sendo agraciado com tanta honra por esta Casa, eu quero agradecer, em primeiro
lugar, ao Ver. Sebastião Melo, proponente desta homenagem, e a esta Casa por
ter-me concedido este honroso Título.
Eu
vou falar poucas palavras. Eu só quero, de momento, transferir este Título, em
especial, às minhas filhas. (Palmas.) Em segundo lugar, aos portugueses.
(Palmas.) E, em seguida, ao povo da minha terra, Lamas do Volga. Portanto, este
Título é meu, sim, mas, do coração, é para todos os portugueses, todos os
amigos que aqui se encontram. Eu nada mais tenho a dizer, por tudo o que foi
dito aqui - até demais - sobre a minha pessoa. Eu não sou quase nada, a não ser
uma pessoa que nasceu do trabalho - a única coisa que eu gosto é de trabalhar,
sempre foi -, e espero que Deus me dê alguns dias de vida para eu continuar a
minha luta com a mesma dedicação que sempre tive. Eu só posso agradecer a todos
os presentes. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Encaminhamo-nos para o encerramento
desta solenidade em que o nosso João Fernandes da Costa recebeu o título de
Cidadão de Porto Alegre. A sua forma de se dirigir aos seus amigos, aos
Vereadores, à Casa do Povo de Porto Alegre mostra a alma de que ele é
possuidor. Eu acredito que ele tenha emocionado a todos nós pela demonstração
de carinho para com a sua esposa, suas filhas, seus conterrâneos, seus amigos,
seus fregueses; é, realmente, uma pessoa que merece o nosso carinho. Agradeço a
presença dos componentes da Mesa e demais presentes e convido todos, para, em
pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.
(Ouve-se
o Hino Rio-Grandense.)
Damos
por encerrada a presente Sessão Solene. A todos, muito boa-noite. Saúde e paz.
(Encerra-se
a Sessão às 18h41min.)
* * * * *